fotografia de Marzio Marzot
E então subimos aquele grande rio
e as portas do Rodão, chamadas. Era em abril
dois dias depois da neve
e da cidade dos nevões, na serra.
E olhamos para os penhascos da beira-rio,
as oliveiras, o xisto, a cevada
as ervas de termo, e as colinas.
E, junto da via férrea, os homens do país
miravam-nos como se fossemos nós
e não eles os mortos desta terra,
homens do medo e do tempo da discórdia
que trazem para o cimo das estradas
a malícia que vai apodrecendo
seus pés neste mundo e em terras de outrém.
Que fazeis do mundo e da sua chama imponderável, os homens,
perdidos que estais, hoje como ontem,
entre a casa e o limiar?
E evocamos, mais uma vez, esse provérbio sessouto.
E, na verdade, porque regressaremos,
após tantos anos, a este tema?
Será que a morte nos ensinou
a olhar para o homem com pavoroso êxtase?
João Vário, Fragmentos
Para repôr com urgência a estrondosa ausência de um Camões para Cabo Verde, leia-se e releia-se, o que o país produz em termos literários (e não só). Ver a este propósito, o comentário de F. José Viegas em http://origemdasespecies.blogspot.com/. E ainda http://www.aulil.blogspot.com/: ambos obrigatórios, para quem quer estar a par.
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