Esqueci-me do linho que queria ainda estrear, tirar da gaveta as toalhas e lençóis, e deitar-me neles, lavados, frescos, para depois os amarrotar de abraços e beijos.
Esperava o sol, que durou pouco. Mas espero sempre o sol. Vou esperá-lo até ao fim dos meus dias.
Mas o pó “é lixado”, como dizem os teus versos, que eu não consigo trazer ao de cima porque ainda não te conheço. Só sei que te gosto e te trato bem nos meus intervalos de grandes solidões, à espera que as grades se fechem que os serãos sejam mais bonitos, que os jardins me pertençam.
Trouxe flores comigo e o meu mundo, imperfeito, incandescente, mas vivo e cruamente honesto. Pus-me toda numa bandeja, como se mudasse de país. Vim para ti, a esquecer as dores e a dor, imensa, imensa.
Mas fecharam-nos as portas do jardim secreto e, quando o regas, lembras-me, infalivelmente, que devia ter sido eu a regá-lo. Eu, que amo os jardins na rua, eu que pensei que não havia nada de mal em passear nos jardins: aqui das redondezas, ou outros, os que nos levam a cruzar pessoas e a inventar-lhes a vida.
Cada um tem o seu quarto de trabalho interior. O meu está, em grande parte, nos corpos e nas vozes de quem cruza o meu caminho. Não deixes, por isso, de regar os jardins.
Armandina Maia
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