Já se perfilha a Ilha. Vêmo-la entre as ondas que descem. No cais, homens e mulheres nervosos, calados aguardam a sua acostagem. Cheira a flores colhidas em quintais pequenos de terra escura. Cheira a dever e a consternação. Há um homem entre todos. Sentou-se por momentos no degrau de cimento, a menos de 20 centímetros do local em que a água toca. Não lhe vemos a cara, ainda. Mas há qualquer coisa de familiar no jeito com que franze o rosto que começa a mostrar as marcas dos dias.
Uma mulher surpreendida pela velhice também aguarda. Tem o olhar duro e os olhos secos. Está ao pé do homem que perdeu a perna por amor. Os dois contra o céu, mesmo se nunca se tocarão até ao fim das suas vidas. Da casa-abrigo, onde os bilhetes nunca se vendem, chega o som do relato de futebol. O Vilanovense perdeu outra vez. Paciência.
Vai triste o "Capitão das Ilhas" e contudo, manso e decidido. Vai em direcção ao que tem de ser. Como todos nós.
Possidónio Cachapa, O mar por cima
http://prazer_inculto.blogspot.com
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