quinta-feira, março 30, 2006

a paisagem/ é um deus/ sem árvores*

* Luiza Neto Jorge

A casa onde vivo foi meticulosamente escolhida entre duas frentes. As traseiras eram, na verdade, a sua grande frente: tinham uma pracinha em lugar das famosas pracetas de betão, e espaços ajardinados, orlados, como preciosas pérolas, por árvores de vários tipos, frondosas, que nos criavam a sombra.

Em frente de casa, pode-se ter um terreno baldio, os telhados da cidade, as janelas de vizinhos coladas às nossas, a vastidão do mar. Ou, simplesmente, uma fiada de copas que dá sentido à curva da estrada.

Esta manhã descobri que OITO daquelas árvores iriam ser cortadas, "para nivelar o passeio". Assim disse o homem, distraído, como se palitasse os dentes, a mostrar, com uma ponta de orgulho, que a sugestão fora dele e o Presidente da Junta "disse que sim".
Telefonei a amigos e até aos "Verdes"!!!, tudo isto a caminho do trabalho, a congeminar uma revolução por esta ignorância que não é crime nem nada. A Srª dos "Verdes" disse-me que estava a acontecer com os choupos (são as OITO árvores), porque são árvores "com pouco tempo de vida" (20, 30 anos).
Perguntei-lhe quem era responsável por terem posto árvores com prazo de vida, 20, 30 anos, para um dia morrerem precocemente, no passeio da rua. Ela foi falando, muito, de que essas árvores adoecem, têm os troncos ocos, etc, etc. Para justificar a militância do nome do Partido, incitou-me a vigiar atentamente se "eles" lá punham outras árvores, que muittas vezes prometiam e nada aconteciam, blá, blá. Enfim, coisas de quem (já) fala com sabor de paleio parlamentar (enquanto ela falava, eu ia pensando no poder redentor de alguns blogs em casos como este..

Quanto custa matar uma árvore que levou 30 anos a crescer? Quanto se ganha em matá-la? (quantos negócios se farão com o tira e põe?...)

Não sei, mas acho que não é só culpa do homem que parecia palitar os dentes. Sei que a casa ficou triste de um dos lados, onde, despudoradamente, me puseram um barracão na orla que era o meu mar possível.
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Ainda lá estão, as árvores cortadas, mas rente ao chão. Um depósito de madeira morta, com troncos bem vivos. Não foram sequer recolhidas: foram deixadas, assim, sem nenhum pudor.
Neste país que rima com Abril, à beira de um choque tecnológico que vai salvar o país da miséria, qualquer presidente de Junta pode mandar abater árvores...

Eram só choupos, mas eram os choupos da nossa casa.
P.S. Aceitam-se mensagens de condolências ou outras.

Maria Armandina Maia

2 comentários:

armandina maia disse...

Caro agb,
acho que percebeu à velocidade da luz por qu etunel andamos às escuras.
Aproveito paralhe dizer que não consigo enviar comentários para o renhaunhau, veja se o problema é só meu e diga-me qq. coisa.
até breve
armandina maia

tina disse...

gostava de saber se posso ter uma arvore no patamar duma escada a bater no tecto?