domingo, abril 30, 2006

Indépendencia: outras canções de abril




Imuna Iami, cantado pelo Grupo Jovens do Hungu, (autor: Silva F. Paixão)
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Jorge de Sena: não hei-de morrer sem saber qual a cor da liberdade


Moçambique, Nweti, cantado por Amoya, (autores: Conceição Daniel e Milagre Danga)
1975-1995- Indépendencia
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Cantiga de Abril

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Jorge de Sena, 1974

sábado, abril 29, 2006

Affonso Romano de Sant'Anna: uma voz inteira de abril feita

http://wvs.topleftpixel.com/
http://um-buraco-na-sombra.netsigma.pt




Villa Lobos
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Fragmento 3

Sei que há outras pátrias.
Mas mato o touro nesta Espanha,
planto o lodo neste Nilo,
caço o almoço nesta Zâmbia,
me batizo neste Ganges,
vivo eterno em meu Nepal.

Esta é a rua em que brinquei,
a bola de meia que chutei,
a cabra-cega que encontrei,
o passa-anel que repassei,
a carniça que pulei.

Este é o país que pude
que me deram
e ao que me dei,
e é possível que por ele, imerecido,
- ainda morrerei.


Affonso Romano de Sant'Anna, Que país é este?

quarta-feira, abril 26, 2006

A lha sem 25 de Abril




Mozart, Gnossienne
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Alberto João Jardim não é inimputável, não é um jumento que zurra desabrido, não é um matóide inculpável, um oligofrénico, uma asneira em forma de humanóide, um erro hilariante da natureza.Alberto João Jardim é um infame sem remissão, e o poder absoluto de que dispõe faz com que proceda como um canalha, a merecer adequado correctivo. (...) Não há que sair das definições. Perante os factos, as tímidas rebatidas ao que ele disse pertencem aos domínios das amenidades. Jardim tem insultado Presidentes da República, primeiros-ministros, representantes da República na ilha, ministros e outros altos dignitários da nação. Ninguém lhe aplica o Código Penal e os processos decorrentes de, amiúde, ele tripudiar sobre a Constituição. Os barões do PSD babam-se, os do PS balbuciam frivolidades, os do CDS estremecem, o PCP não utiliza os meios legais, disponentes em assuntos deste jaez e estilo. Desculpam-no com a frioleira de que não está sóbrio. Nunca está sóbrio? O espantoso de isto tudo é que muitos daqueles pelo Jardim periodicamente insultados, injuriados e caluniados apertam-lhe a mão, por exemplo, nas reuniões do Conselho de Estado. Temem-no, esta é a verdade. De contrário, o que ele tem dito, feito e cometido não ficaria sem a punição que a natureza sórdida dos factos exige. Velada ou declaradamente, costuma ameaçar com a secessão da ilha. Vicente Jorge Silva já o escreveu: que se faça um referendo, ver-se-á quem perde. A vergonha que nos atinge não o envolve porque o homenzinho é o que é: um despudorado, um sem-vergonha da pior espécie. A cobardia do silêncio cúmplice atingiu níveis inimagináveis. Não pertenço a esse grupo.



Armando Baptista Bastos

segunda-feira, abril 24, 2006

Abrir abril a pele marcada pela cor da liberdade

imagem criada por Alexandra Veiga


José Afonso, "Grândola"
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Zeca,

Andamos longe da Grândola já mal sabemos a letra mas temos sempre a janela de abril nas nossas vozes em que te cantámos e nos cantámos com as manhãs a florir sem orvalho nem bruma, manhãs de sol já alto que a cor das noites passadas tornava mais azuis e tudo floria vermelho papoilas eram papoilas ou cravos vermelhos não brancos como agora se tem feito em cerimónias fúnebras a fingir que é abril.
Andamos sem cravos na lapela eram tão lindos os cravos nas bocas que pareciam de todos que se queriam beijar de fraternos que éramos as mulheres opulentas do Portugal que vinha de trás, redondas cheias e lindas a beijar os pés da liberdade nos rostos dos soldados que sorriam como se fossem nossos filhos e estivéssemos na praça a festejar o dia a noite o riso que se escondera no medo das noites atrás das cortinas tanta gente tantos irmãos tantos homens a morrer num corredor da morte morno e manso.
Já não morremos assim morremos de doenças globais e modernas o stress o avc o enfarte o cancro a surménage mas morremos cada vez mais de esquecimento daquela cor cada vez mais desbotada que se apodera de nós a caminho da casa das férias a correr das pausas que não temos do sol que não vemos da orla do mar que não sentimos sob os pés e queremos viver assim esquecidos de nós tão esquecidos que os votos escasseiam e os homens bons são muito poucos para trazer à malta o que faz mesmo falta um abrigo para os que dormem na rua sem querer uma manta de carícias para os meninos sem condição que são tantos e o tempo e o tempo e o tempo que não temos a gente tem que se ver tem mesmo que se ver tem mesmo tem.
Andamos às voltas com o fmi apesar do zé mário ter dito o que disse com o medo a cortar a luz ao futuro que queremos deixar aos putos perdidos nas estradas de alcatrão nos empregos desempregados à espera do fundo a fazer de conta que são gente num país que não tem lugar para velhos nem para putos as estatísticas dizem que pesam muito o orçamento é tramado anda a reboque dos mimos com que os políticos se alimentam uma fauna desocupada ociosa e servil que faria envergonhar o o’neill por ainda termos esta feira cabisbaixa por país.
Mas há um abril por abrir e um país por parir digo-te eu que tinha a minha filha a dançar-me no ventre quando cresci naquela manhã e vi até morrer este abril e os campos são verdes e não faremos mais recados às bruxas o nosso pensamento é maior que a dureza dos dias incertos como alçapões ninguém nos lava as canções com lágrimas o cortinado roxo que nos morde o coração mas ninguém nos tira a mariazinha com os olhos no mar. Somos cinco mais cinco mais cinco até sermos múltiplos de cinco que já não se contam pelos dedos contam-se pelos olhos pela palavra pelo gesto fraterno e uno que ficou debaixo da nossa pele agora para sempre marcada pela cor vermelha da liberdade do nascer e do morrer. Para sempre.


lisboa, 24 de abril de 2006
Maria Armandina maia

sábado, abril 22, 2006

Requiem por um rei sem reino


http://pimba-club.deviantart.com/

Leio, releio os exegetas.
Quanto mais leio, descreio. Insisto?
Deve ser um mal do século
- se não for um mal de vista.

Affonso Romano de Santana, Que País é este?


A flor(a) do "Faroeste da rede"

Fiquei a saber pelo artigo do Pacheco Pereira que as caixas de comentários estão cheias de arruaceiros com fins ignóbeis, capazes de matar a mãe para aparecer no blogue. Conheço e frequento alguns – poucos – blogues que me interessam porque mostram talento, criatividade e sentido de humor.
Sempre defendi que a verdadeira cultura deve ter a capacidade de passar para as mãos dos outros o saber que o poder conservou como território sagrado, alimentando a ignorância do povo. Só se reina nos reinos da estupidez.

Por isso, por incrível que pareça, é nesta “gentinha” sem qualidades que reside, também, o novo. Para mim, os intriguistas, os bobos da corte, os pimbas, nunca ocuparam muito do meu espaço, pela simples razão de que eu o controlo.

Aqui ficam alguns temas muito interesssantes para investigar, seriamente: o que leva uma criatura como qualquer outra a tornar-se autor de um blogue; que mecanismos, perversos ou não, esconde esta escolha; (mas, e sobretudo) o que ganha com isso, já que ou “donos” dos blogues, os que engordam os sitemeters, são sempre pessoas (de mérito ou não), mediáticas e até famosas em certos “círculos”.

Incomoda que muita gente passe horas diante de um écrã vazio a tentar torná-lo seu?
Todo o artigo de P.P. sobre os blogues remete para um campo semântico que nos leva a pensar que há uma conjura entre os autores de blogues e os seus fequentadores. O blogue em si, como instrumento de comunicação, não merece uma análise digna desse nome: P.P. não ultrapassa a soleira da donzela ofendida na sua virtude, numa acusação contínua e reiterada, que peca por omissão dos aspectos gratificantes dos pequenos círculos de comunicação, da aprendizagem não programada, do estímulo da curiosidade e descoberta da recolha e partilha de informação, do reconhecimento e satisfação narcísica no seu melhor sentido.

Sobretudo os leitores incautos dos “posts” jornalísticos de P.P., que não frequentam os blogues, imaginam um bacanal de gente sem qualidades nem escrúpulos a assaltar as caixas de correio para alcançar a fama.
A realidade que eu conheço anda longe destas fantasias: os blogues têm meia dúzia de fiéis, e dão-se por contentes com comentários dignos desse nome, sem fofocas, insinuações nem maledicências.

Claro que gostam de dar uns palpites sobre os destinos do país que se esbanja entre as vergonhas várias sem que se veja onde pára o bem da nação.
Criticar é um acto saudável, que tem a vantagem de ser gratuito, não ser pecado, não fazer engordar e que, ainda por cima, vem na melhor tradição do escárnio e maldizer na cultura portuguesa.

Escrevam, pois, o que quiserem nas caixas de correio: só lá vai quem quer e só lá fica quem for consentido.
E já agora com uma pontinha de humor. É que a seriedade a mais, dita de olhos baixos que não olham os outros, pode parecer muito bonita mas é muito solitária. Para não dizer sozinha e triste.

Nota importante: eu não tenho um blog famoso, não frequento caixas de correio famosas e não me sento em (famosas?) quadraturas do círculo...

Maria Armandina Maia

segunda-feira, abril 17, 2006

Paulo Teixeira: o futuro, sangue mais limpo correndo pela carne de quem nasce

http://www.olhares.com/



Marlene Dietrich, "Das alte lied"

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Elegia
O futuro não o guardamos em casa, perde-se
disperso entre a meia-noite e a folhagem. Nu,
exposto como uma província além da trincheira
das janelas, fala-nos do ouro puído destes dias,
desse sentido ganho nas coisas que se perdem,
salivando a passagem das horas, sustendo
contra a dor o dreno das nossas vidas.

Lembramos os pequenos oráculos da infância,
os sonhos que são memórias já na sua escura
torre do tombo, ao intimarmos, no seu sossego
povoado, a evasiva alma do passado. Buscamos
no ontem a sua recompensa, sabendo que não
há outro homem para o homem deste lugar,

sangue mais limpo correndo pela carne
de quem nasce, a sua genuína morte pastoral.
Eis chegado o tempo da ceifa, dos presságios
de longe trazidos no rumor das trompas outonais.
As palavras, os trémulos ramos das palavras,
pressentem o espírito da revelação em cada coisa.

Assim choramos a festa última dos instantes,
dias de uma neblina fiel cobrem-nos os passos,
obscurecendo essas mãos que gostariam de subir
ao céu como escadas. Se conhecesse a linguagem
fácil do tributo cantaria a queda adivinhada
a tempo de o poema terminar na forma de uma elegia.


Paulo Teixeira

Elegie

Die Zukunft bewahren wir nicht zu Hause auf, sie geht verloren,
ausgestreut zwischen Mitternacht und Laubwerk. Nackt
ausgestellt wie eine Provinz jenseits der Reihe
der Fenster, erzãhlt sie uns vom abgenutzten Gold dieser Tage,
von diesem in den verlorengehenden Dingen gewonnenen Gefühl,
wenn wir das Vergehen der Zeit einspeicheln und das Abzugsrohr
unserer Leben gegen den Schmerz stemmen.

Wir denken an die kleinen Orakel der Kindheit,
die in ihrem dunklen Archivturm zu Erinnerung
geronnenen Trãume, wenn wir in der bevõlkerten Stille dort
die flüchtende Seele der Vergangenheit herbeizitieren. Wir suchen
im Gestern die Belohnung und wissen doch, daB
der Mensch an diesem Platz kein anderer sein kann,

das reinere Blut strõmt durch das Fleisch dessen,
der geboren wird sein wahrhaft pastoraler Tod.
Da naht die Zeit zur Ernte, Zeit der Vorzeichen,
die im Gemurmel herbstlicher Hornklãnge von weither gebracht werden.
Die Worte, die zitternde Zweige der Worte
ahnen bereits den Geist der Offenbarung in jedem Ding.

So beweinen wir das letzte Fest der Augenblicke,
treue Nebeltage bedecken unsere Schritte
und verdunkeln diese Hãnde, die treppengleich
zum Himmel streben. Wãre mir die leichte Sprache
des Opfers vertraut, besãnge ich den erahnten Untergang,
daB das Gedicht in Form einer Elegie endete.

Paulo Teixeira
Tradução: Niki Graça



sexta-feira, abril 14, 2006

Luis de Góngora: !Que se nos va la Pascua, mozas!

http://attambur.com/Service/Geral/Contactos.htm



Música e interpretação de Paco Ibañez
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!QUE SE NOS VA LA PASCUA, MOZAS!

Mozuelas de mi barrio,
loquillas y confiadas,
mira no os engalle el tempo
la edad y la confianza.
No os dejéis lisonjear
de la juventud lozana,
porque de caducas flores
teje el tempo sus guirnaldas.
!Que se nos va la Pascua, mozas.
que se nos va la Pascua!
Yo sé de una buena vieja
que fue un tiempo rubia y zarca,
y que al presente le cuesta
harto caro el ver su cara;
porque su bruñida frente
y sus mejillas se hallan
más que roquete de obispo
encogidas y arrugadas.
iQue se nos va la Pascua, mozas,
que se nos va la Pascua!
Y sé de otra buena vieja,
que un diente que le quedaba
se lo dejó este otro día
sepultado en unas matas;
y con lágrimas le dice:
«Diente mio de mi alma,
yo sé cuánto fuisteis perla,
aunque ahora no sois nada»
Que se nos va la Pascua, mozas,
que se nos va la Pascua!
Por eso, mozuelas locas.
antes que la edad avara
el rubio cabello de oro
convierta en luciente plata,
quered cuando sois queridas,
amad cuando sois amadas;
mirad, bobas, que detrás
se pinta la ocasión calva,
!Que se nos va la Pascua, mozas,
que se nos va la Pascua!

Luis de Góndora (1561-1627)

terça-feira, abril 11, 2006

Afinal era tão pequeno.....

CAPÍTULO SEGUNDO



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"Addio Lugano Bella", por Pueblo Unido


VIVA A ITÁLIA SEM A "FORZA ITALIA"!!!

Falcone e Borsellino...a Itália "recupera" duas mortes tão vis quanto heróicas

As autoridades italianas anunciaram esta terça-feira a prisão do mais alto dirigente da máfia siciliana, ao cabo de 42 anos de fuga. De acordo com magistrados da direcção regional anti-máfia local citados pela agência italiana Ansa, Bernardo Provenzano, de 73 anos, foi preso na região onde nasceu, Corleone, nas proximidades de Palermo, na Sícilia. Conhecido como o «fantasma de Corleone», o mais homem mais procurado de Itália nasceu em Janeiro de 1943, e cuja a última fotografia conhecida datava de 1959, tinha passado à clandestinidade em 1963. O actual chefe supremo da máfia siciliana tinha assumido o seu posto após a prisão do seu antecessor, Salvatore 'Totó' Riina, em 1993. O antecessor de Provenzano à frente da máfia na Sicília tinha sido responsável pela morte dos juízes Giovanni Falcone e Paolo Borsellino.


(Extraído das notícias TSF on-line)


CAPÍTULO PRIMEIRO





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"Italia Bella mostrati gentile", por Pueblo Unido

segunda-feira, abril 10, 2006

Eugénio de Andrade: mais do que destas casas e destas ruas, sou das dunas de Fão

Fotografia de Pedro Matos



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Mozart, Sonata para piano em ré maior 576
Friedrich Gulda, piano


A casa ficava num dos extremos do terraço, fechado por muros baixos de um lado, o outro dava para outros terraços; ao fundo meia dúzia de casas, e o Cávado, com um barquito que nos levava à outra margem, em quatro ou cinco remadas. Também da janela do meu quarto se avistava, mal abria as persianas, aquele amplo corpo de água e o pequeno areal, antes de tudo se transformar em bosque. Os muros estavam cobertos de madressilva, que desciam e afogavam o azul das hidrângeas. (...) Naqueles areais, à beira daquele mar, come­çava o paraíso - um espaço sem fim de areia e água, com dunas altas, onde além de nós só havia gaivotas e algum sargaceiro distante. Se alguém quiser procurar o Ernesto terá de o fazer nesta praia, ao longo deste mar. Procurem-no entre os juncos e os cardos das dunas. Aqui passou dias e dias ao sol, os olhos perdi­dos nas páginas frementes do Lawrence, do Gide, do Whitman, do Frazer, só os levantando de vez em quan­do para olhar a franja de espuma ou chamar a nossa atenção para uma linha, um verso. Procurem-no aqui, e se não o encontrarem não o busquem noutro sítio, porque se não estiver neste areal então é porque se fez orvalho ou poeira de longínqua estrela.

Eugénio de Andrade, “Com o Ernesto, nas Dunas de Fão”, À Sombra da Memória

sábado, abril 08, 2006

Natália Correia:que margens têm os rios/para além das suas margens?

Poema destinado a haver domingo

Bastam-me as cinco pontas de uma estrela
E a cor dum navio em movimento
E como ave, ficar parada a vê-la
E como flor, qualquer odor no vento.

Basta-me a lua ter aqui deixado
Um luminoso fio de cabelo
Para levar o céu todo enrolado
Na discreta ambição do meu novelo.

Só há espigas a crescer comigo
Numa seara para passear a pé
Esta distância achada pelo trigo
Que me dá só o pão daquilo que é.

Deixem ao dia a cama de um domingo
Para deitar um lírio que lhe sobre.
E a tarde cor-de-rosa de um flamingo
Seja o tecto da casa que me cobre

Baste o que o tempo traz na sua anilha
Como uma rosa traz Abril no seio.
E que o mar dê o fruto duma ilha
Onde o Amor por fim tenha recreio.


Natália Correia, Poesia Completa, Dom Quixote, 1999

http://www.leme.pt/biografias/portugal/letras/nataliacorreia.html
http://members.tripod.com/migo1/aut_natalia.html
http://poesiaseprosas.no.sapo.pt/natalia_correia/poetas_nataliacorreia01.htm
http://www.lumiarte.com/luardeoutono/nataliacorreia.html
http://www.revista.agulha.nom.br/nc.html
http://www.viaoceanica.com/canais/poesia/ler.php?id=53
http://lusomatria.com/noticias.php?noticia=136
http://www.triplov.com/poesia/natalia_correia/index.htm
http://fumacas.weblog.com.pt/arquivo/083511.html
http://www.nescritas.nletras.com/poetasapaixonados/denataliac/

Mário de Andrade: nós temos que dar uma alma ao Brasil

Mário de Andrade por Lasar Segal


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Heitor Villa Lobos


Toda a minha obra é transitória e caduca, eu sei. E eu quero que ela seja transitória. Com a inteligência não pequena que Deus me deu e com os meus estudos, tenho a certeza de que eu poderia fazer uma obra mais ou menos duradoura. Mas que me importa a eternidade entre os homens da Terra e a celebridade? Mando-as à merda. Eu não amo o Brasil espiritualmente mais que a França ou a Conchinchina. Mas é no Brasil que me acontece viver e agora só no Brasil eu penso e por ele tudo sacrifiquei. A língua que escrevo, as ilusões que prezo, os modernismos que faço são pro Brasil. E isso nem sei se tem mérito porque me dá felicidade, que é a minha razão de ser da vida. Foi preciso coragem, confesso, porque as vaidades são muitas. Mas a gente tem a propriedade de substituir uma vaidade por outra. Foi o que eu fiz. A minha vaidade hoje é de ser transitório. Estralhaço a minha obra. Escrevo língua imbecil, penso ingênuo, só pra chamar a atenção dos mais fortes do que eu pra este monstro mole e indeciso ainda que é o Brasil. Os gênios nacionais não são de geração espontânea. Eles nascem porque um amontoado de sacrifícios humanos anteriores lhes preparou a altitude necessária de onde podem descortinar e revelar uma nação.


Mário de Andrade, "Carta a Drummond", S. Paulo, 10-XI-1924, in Carta aos Mineiros,
org. Eneida Maria de Souza e Paulo Schmidt, 1997.

http://educaterra.terra.com.br/literatura/temadomes/

quarta-feira, abril 05, 2006

Emanuel Félix: (d)a poesia amada por um homem

B. Berenika


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Mozart, piano concert n.23 Herbert von Karajan


Five O’clock Tear

Coisa tão triste aqui esta mulher
com seus dedos pousados no deserto dos joelhos

com seus olhos voando devagar sobre a mesa

para pousar no talher


Coisa mais triste o seu vaivém macio

p’ra não amachucar uma invisível flora

que cresce na penumbra

dos velhos corredores desta casa onde mora


Que triste o seu entrar de novo nesta sala

que triste a sua chávena

e o gesto de pegá-la


E que triste e que triste a cadeira amarela
de onde se ergue um sossego um sossego infinito

que é apenas de vê-la

e por isso esquisito


E que tristes de súbito os seus pés nos sapatos

seus seios seus cabelos e seu corpo inclinado

o álbum a mesinha as manchas dos retratos


E que infinitamente triste triste

o selo do silêncio

do silêncio colado ao papel das paredes

da sala digo cela

em que comigo a vedes


Mas que infinitamente ainda mais triste triste

a chávena pousada

e o olhar confortando uma flor já esquecida

do sol

do ar

lá de fora

(da vida)

numa jarra parada.

Emanuel Félix


http://alfabeto.blogspot.com/2005/01/emanuel-flix.html

http://gloriafacil.blogspot.com/2004/02/emanuel-flix-1932-2004.html



terça-feira, abril 04, 2006

Ana Hatherly: as fronteiras entre as palavras são todas ténues e delicadas

Ana Hatherly
A Mentira é a recriação de uma Verdade. O mentidor cria ou recria. Ou recreia. A fronteira entre estas duas palavras é ténue e delicada. Mas as fronteiras entre as palavras são todas ténues e delicadas. Entre a recriação e o recreio assenta todo o jogo. O que não quer dizer que o jogo resulta sempre. Resulte seja o que for ou do que for. A Ambiguidade é a Arte do Suspenso. Tudo o que está suspenso suspende ou equilibra. Ou instabiliza. Mas tudo é instável ou está suspenso. Pelo menos ainda. Ainda é uma questão de tempo. Tudo depende da noção de tempo ou duração ou extensão. A aceleração do tempo pode traduzir-se pela imobilidade pois que a imobilidade pode traduzir-se por um máximo de aceleração ou um mínimo de extensão: aceleração tão grande que já não se veja o movimento ou o espaço ou a duração. Tudo está sempre a destruir tudo. Ou qualquer coisa. Ou alguém. Mas estamos sempre a destruir tudo ou qualquer coisa. Ou alguém. Os construtores demolem. No lugar onde estava o sopro, pormos pedras ou palavras: sinónimo de construção. Ou destruição. Ou acção.


Ana Hatherly, O Mestre

http://www.mulheres-ps20.ipp.pt/Ana_Hatherly.htm

http://www.lumiarte.com/luardeoutono/anahatherly.html

http://www.revista.agulha.nom.br/ag35hatherly.htm

http://www.triplov.com/alquimias/hatherly.htm

http://www.citador.pt








domingo, abril 02, 2006

Eduardo Pitta: no lajedo da vigília

www.aransite.com.ar


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Acolhia-se aos destroços
da velha casa, onde não encontrou
nenhuma das antigas pegadas,
entre si confundidas na sombra
da pedra, nos reflexos do lago, no
lajedo da vigília.

A nenhum deles encontraria -
perdidos entre Cartago e a Palestina
distantes do absinto, dos dias de fox
hunting, das leituras de algum árcade
pedante e apostólico. Estava só. Era no tempo
da canalha.

Para trás ficavam as capelas imperfeitas
e a tranquila majestade dos olmos.
Amara-os aos dois no intervalo
um do outro, na iminência sempre de um naufrágio
redentor.
E agora tinha as mãos vazias.

[Brideshead Revisited.]

Eduardo Pitta, A Linguagem da Desordem

daliteratura.blogspot.com/

nescritas.nletras.com/poetasapaixonados/listapoesias2/archives/2039_11.html

p
enclube.no.sapo.pt/pen_portugues/socios/eduardo_pitta.htm

antologiadoesquecimento.blogspot.com