terça-feira, janeiro 16, 2007

contagem [de]crescente 6

imagem de antónio ferra

Do toque no fundo que senti durante anos, daquela asfixia permanente, senti-me soerguer por uma alavanca invisível que, mais uma vez, provinha do meu coração.
Talvez um dia diga da minha alma, mas, naquele tempo, ainda tinha medo de nomear as coisas não-científicas, aquelas a que os homens fogem em conversas públicas, com medo de desvendar os mais intímos e ínfimos mistérios que lhes ladeiam o ser.
Empurrada por aquela força tamanha, aprendi num golpe de asa o poder da misericórdia: real, infinita, palpável, ilimitada, que há nos diferentes, nos que esperam, nos sozinhos, nos putos, nos pais dos putos, nos velhos. Nunca os tinha visto como ali, naquele longo desfile de gente que esperava, um grupo de gente sem nada nem ninguém, a quem só a alma de cada um podia salvar.
Foi nesse dia que percebi que a tua luz andava perto e a estrela se aproximava a passos largos, mesmo quando o sol a ofuscava.

armandina maia

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