domingo, janeiro 14, 2007

contagem [de]crescente 4

imagem de antónio ferra

O deserto interior doía-me como uma cicatriz invisível aos olhos dos outros. Depois de secarem as lágrimas, tudo se tornou mais fácil dada a opacidade crescente em que estão envolvidas as almas que nos rodeiam. Mas eu saía a procurar-te e deixava-te recados por toda a parte: nos vidros dos carros, no cimo dos telhados, na cama que arrefecia à tua espera, nos jornais, onde também procurei o cão perdido. O cão um dia apareceu, sem ninguém explicar como nem porquê. Apareceu diante de nós, incrédulos, ergueu ligeiramente o olhar manso bovino que é o dele. E perguntou por ti e pelo mar. Foi então que, pela primeira vez, vimos a estrela sobrevoar as nossas cabeças.

armandina maia



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