domingo, junho 18, 2006

(d)a humanidade sem agá ou uma teoria para os macacos de imitação

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Poul Hans Lange

Este post andou a moer-me a cabeça dias e dias, desde que li uma esclarecedora entrevista desta autora no D.N Artes. Para não guardar só para mim a "iluminação", deixo-vos, ipsis verbis, um excerto do seu conteúdo. Neste pequeno excerto ficámos a saber:
1) que ninguém definiu o light (talvez seja por não valer a pena, mas atrevo-me a sugerir que será uma espécie de estilo em que o autor tenta desesperadamente imitar os escritores, falhando redondamente quer nas palavras quer na sua intenção, isto para não falar da técnica narrativa);
2) que a autora escreve pop. (note-se que é pop sem itálico);
3) que foi a autora, literalmente, a salvar o mercado livreiro da morte certa "agonizante" (obrigada, Margarida, e eu sem saber nada disto!);
4) o livro passou a ser um bem quase de primeira necessidade (também não sabia -as coisas que eu não sei- mas imagino que a frase significa que os leitores de M.R. P. compram os seus livros juntamente com o leite, os ovos, o arroz e os iogurtes. O que fazem depois com eles, não fiquei a saber);
5) que toda a gente começou a escrever a seguir à autora, o que lhe estragou o "negócio" de primeira necessidade. Esta musa inspiradora deu lugar ao aparecimento de margaridos e margaridinhas, verdadeiros "macacos de imitação" sem rei nem roque;
6) que o "que vai ficar" é completamente diferente. (Estou de acordo. Inteiramente, ainda esta semana passei os olhos pelo Machado de Assis e percebi que tinha vindo para ficar, assim como o Shakespeare ou o Camões, que já cá andam há quase 500 anos, duraram mais do que os Descobrimentos);
7) que " pessoas acham que escrever é fácil, mas há jeito, talento e génio" (a regra, em geral é impiedosa: o jeito -para o negócio entenda-se- tem prazo de validade e liga-se intimamente à carinha laroca das "autoras") . O talento e o génio são perfeitos sacrilégios que só alguns "malditos" trazem com eles, como uma scarlett letter, porque são mesmo diferentes dos humanos que se escrevem com agá.
Depois da música, leia-se A autora vista pela sua própria lente


Jorge Rocha canta serás a nº 1, Eu só preciso dum minuto
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"Escrevo como posso e não como quero"
O light nunca foi bem definido por ninguém, além de que conside­ro que escrevo pop.
Quando apare­ci o mercado livreiro era o oposto do actual, emperrado e agonizante, no entretanto o livro mudou de estatu­to na vida das pessoas, passou a ser um bem quase de primeira necessi­dade.
O problema é que a seguir a mim todos começaram a escrever ­há 15 anos as mulheres queriam ser decoradoras, e há 30 hospedeiras ­e isso subverteu o mercado.
Assisti­mos a esse fenómeno de multiplica­ção de margaridos e margaridinhas, mas o que vai ficar é completamen­te diferente. Foi importante para os leitores ter acesso a coisas diferen­tes, mas perverso para o mercado li­terário, que passou de um extremo – só o que é hermético era bom - pa­ra um tratamento excessivamente comercial do livro.
As pessoas acham que escrever livros é uma coisa muito fácil, mas há jeito, ta­lento e génio.
Margarida Rebelo Pinto

6 comentários:

lector disse...

Era difícil encontrar uma música mais apropriada! Parabéns pela escolha e pelo texto.

armandina maia disse...

Caro Lector,
isto é só a ponta do iceberg. Não contra a MRP que, francamente não (me) ocupa muito espaço, mas contra aquela gentinha que se encosta à esquerda e à direita, explorando sentimentos e misérias alheios. Não recuso a sua existência, nem faço de conta que não produzem: produzem e como, uma máquina abjecta de submissão permanente, em que TODOS OS MEIOS são válidos e validados pela "extraordinária" informação que, acima de tudo e todos, premeia esta miséria com cheiro de ouro.

tsiwari disse...

Fogo!
Não me digas que a MRP é, também, uma das Lipsticks??

O que tu descobres!

LOL

alecerosana disse...

A entrevista, sem comentários..
Quanto aos livros, nunca li nenhum.
Um abraço,

Alece

armandina maia disse...

Obrigada amigos, eu sabia que podia contar com a vossa compreensão perante esta invão da propriedade alheia, useira e vezeira em providências cautelares...mas soube-me tão bem...

Para Tsiwari:
a Lipstick é isto e muito nmais ou muito menos...
depende do ponto de vista. Em todo caso, é vesgo, se não mesmo ceguinho de todo...

maria joão martins disse...

Amiga,
Não esquecer que, em ditosa noite, ouvimos ambas esta senhora afirmar que tinha posto Portugal a ler (remember?)! Abençoada seja. Em França já lhe tinham dado a Legião de Honra.
Besos