Maurizio Pollini executa ao piano Robert Schumann
Guardei para este post a homenagem a Eugénio de Andrade em Milão de que falei vagamente aqui, onde se ouviram, a par de algumas das vozes mais autorizadas na matéria, teses jovens e inovadoras sobre a obra do poeta.
Nei versi degli altri
O Oriente sempre me fascinou. O que lhe (refere-se aos chineses) sai das mãos trabalhado em abundâcia de espírito - cerâmica, palha, bambu, comida, caligrafia, pintura, papel, poesia, tecido, pedra, música - tudo revela um saber delicado, subtil, superior.
Michela Graziani
A figura do gato tem servido para construir uma reflexão metapoética sobre questões de identidade. O olhar dos gatos, e a reflexão do olhar do sujeito poético no lume dos olhos dos gatos, é uma imagem complexa do intercâmbio entre um Eu e um Outro, de Baudelaire a Eugénio de Andrade, que nos alerta, num seu texto autobiográfico: “Ao fundo de cada uma destas linhas espreita um gato”.
Paulo Medeiros
La poesia nella voce del poeta
Em cada verso de Eugénio transpira o valor e o preço que o autor pagou em nome da poesia. Da sua poesia. E talvez aqui se encontre a questão fundamental sobre este clássico na modernidade europeia: a literatura vale uma vida? E a vida vale a literatura? Serão perguntas de interminável resposta. Mas em Eugénio, ambas se reunem, poesia e vida, numa celebração adâmica e vital, prolongando-se para lá do tempo. Se a poesia se afigura como um sonho feito na presença da razão, Eugénio de Andrade soube legar-nos esta capacidade única de sonharmos a nossa própria humanidade.
Maria Bochichio
Il giorno in cui Eugénio de Andrade connobe Cesare Pavese
O meu objectivo ao dar exemplos de poemas pavesianos imaginariamente inspirados em versos de Eugénio de Andrade foi o de "trocar a rosa", ou seja fazer um percurso de leitura ao contrário: a exemplo do Pierre Menarde Borges, tentei encontrar na poesia de Pavese que obviamente não conheceu a de Eugenio de Andrade, influências deste. Tentei assim estabelecer alguns pontos de contacto entre a poesia destes dois grandes vultos da poesia europeia para mais uma vez comprovar o que já se sabe:que a poesia é universal, e subsistindo no tempo, permite todos os percursos possíveis, cabendo ao leitor estabelecer afinidades electivas entre os poetas de que gosta mais.
António Fournier
2 comentários:
Da poesia, do Eugénio e de tantos outros, tenho só o que de meu construo. Nada de elaborado por estudos afincados e no tempo estendidos.
Gostei do teu mimo ao poeta.
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"a poesia é universal", dixit.
o nosso Universo é tão, tão minúsculo.
o que temos em comum é muito mais que o que nos separa.
Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.
E. de Andrade
Passo apenas para demonstrar o meu reconhecimento,
Alece
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