quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Adélia Prado: minha tristeza não tem pedigree

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Adélia Prado, Com licença poética
http://www.releituras.com/aprado_bio.asp



2 comentários:

maria joão martins disse...

Maravilhoso poema, não é, menina? E diz tanto sobre as nossas sinas... beijinhos

Jorge Ramiro disse...

É um belo poema. Eu gosto muito da poesia. Escrevo poesia e também participou de concursos de poesia. A última vez que participou de um concurso de poesia organizado pela Pedigree e eu ganhei um monte de comida para o meu cão.