quarta-feira, maio 03, 2006

a viagem da minha vida

Alberto Giacometti


Carlos Paredes, Variações em ré maior
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Vivi quase nove anos neste país, uma segunda pátria, se é possível o sonho de repartir o indivisível. estarei num Congresso dedicado a Eugénio de Andrade e a cultura europeia.
Quando voltar, retomo os meus posts, o meu blog que tanto me anima pelos encontros de saberes e, sobretudo, de memórias, já que o esquecimento, como eu disse ontem a um conhecido, é a pior de todas as mortes.
deixo-vos com um excerto do trabalho que vou apresentar:

(...) Eugénio de Andrade erigiu e conservou um património de palavras que passaram a pertencer-lhe, edificando num terreno aparentemente árido, uma oficina de poesia cuja fertilidade ainda hoje ecoa em muita da nova produção poética portuguesa e não só. Referimo-nos, entre outros, à influência nos Países de Língua Oficial Portuguesa (...).
Em cada gesto da escrita de Eugénio de Andrade, a palavra assume-se como um compromisso, tentando suster-se num difícil espaço, em que é o que parece ser, mas é também uma decisão, um arrojo que a arranca da trivialidade para fazer planar, sendo simultaneamente uma memória e a sua projecção num espaço futuro.
Por isso se respira nestas palavras como num templo, “o espaço cheio e como que sagrado” de que fala Óscar Lopes, como se a poesia de Eugénio de Andrade calasse com ela uma nobreza funda que não lhe permite mostrar-se demais. Esta condição de ser parco a “redução ao osso”, nas palavras e no silêncio que as rodeia cria a clareira, o espaço em volta que se alarga e afasta, como disse Rilke. Por isso, desde sempre, Eugénio de Andrade caminha pelos seus próprios passos, como se obedecesse a uma lição que pertence a todos os homens da terra. Esta «pouquidão» acabará por nos trazer um constante efeito de deslumbramento, por se manter assim, intacto, perene, como se viajasse de e para a eternidade:

Era um lugar onde só
a poesia
me podia ter levado –
lugar de morte, a luz
roída,
rala.
Até a minguada
romãzeira
era de pedra.
O vento
acrescentara-lhe a poeira”.

Eugénio de Andrade, "Tebas" Escrita da Terra

4 comentários:

tsiwari disse...

Que tudo corra pelo melhor!

Cá te esperamos e aos teus posts...


Bacci

R.O. disse...

Um post com um belo texto sobre Eugénio. Felicitações, Armandina, e bom regresso.
Abraços,Roteia.

Nuno Gouveia disse...

Se há uma coisa que todos os poetas têm a aprender com Eugénio De Andrade,
é a simplicidade.
A poesia é, pelo menos para mim, mais o sentimento, e menos a palavra.
se os dois forem conseguidos, aleluia.
se for só a palavra, frustração.
se for só o sentimento, já nasceu o poema.
A exibição, seja em que arte for, afoga a alma que ai possa existir.
Abraços Armandina.
Que o Eugénio esteja consigo.

alecerosana disse...

Que pena não conseguir ouvir o Carlos Paredes...