Receita para um filho (e)terno num amor eterno de mãe
Começa-se a amar logo que abre os olhos, ainda sem nos ver distintamente. Embala-se as vezes que for preciso, até demais, porque filho não tem lei nem regra, só a do amor.
Se for de difícil adormecer, dá-se-lhe colo até adormecermos os dois. Não é aconselhável e dizem que faz mal quando crescerem, mas é o que todas as mães anseiam, para curar as insónias dos filhos.
O amor é dado todos os dias, nas quantidades máximas e mínimas. Pode às vezes parecer demais, porque não conseguimos a distância e a austeridade que os livros dizem serem saudáveis.
E crescem, tão inocentes, que fazem inveja aos anjos, contando tudo o que se passa à volta, chorando e rindo muito, porque são meninos só, mais nada.
Têm grandes olhos que nos vêem em todos os gestos e nos pressentem as dores e a aflição, que farejam como felinos.
Ficam contentes só porque chegamos a casa e sair é uma festa, mesmo que seja só à loja da esquina, porque o mundo é todo ali.
Desconhecem a malícia e a maldade e se mentem é só por pensar que nos fazem felizes a dizer o que nós gostávamos de ouvir.
É nesta parte que crescem mais. Quando os olhamos, vemos-lhes as mãos de criança, roliças e doces, crescerem na ponta de uns braços que parecem navegar por cima das cabeças. É então que passam eles a abraçar-nos e a levantar-nos do chão, para mostrar como são fortes e heróis.
São as suas mãos que agora seguram as nossas. Seria já ridículo passeá-los de mão dada, como dantes.
Mesmo assim, sonhamos que lhes protegemos (ainda) os passos. E habituamo-nos a esperar. Que voltem, que voltem sempre. Do mar, da montanha, do outro lado do mundo, da aventura que não os deixa dormir de ansiedade sonhada. Temos medo por eles, temos medo que vão e sonhamos que não voltam, que ninguém os traz até nós.
E assim crescemos, a habituar-nos à distância que dói no coração das mães, mas que faz os filhos mais fortes e audazes. Por isso amamos e odiamos as viagens que nos condenam às esperas, mas deixamo-los ir, e dizemos-lhes que vão, que nós guardamos tudo o que lhes pertence até voltarem: o quarto, o cão e o cheiro do mar.
Às vezes afastam-se demais, e a espera é mais difícil. Ficamos então a girar pela casa, a limpar o quarto e a olhar as fotografias, como se pudessem falar.
Mas um dia voltam, a mergulhar nos sonhos e na realidade, que é um modo de dizer, na esperança de seguir em frente e serem felizes. Para sempre.
É então que as mães dormem a sono solto, o sono adiado de muitos anos.
Parabéns com beijos, cheios, como sempre foram.
Se for de difícil adormecer, dá-se-lhe colo até adormecermos os dois. Não é aconselhável e dizem que faz mal quando crescerem, mas é o que todas as mães anseiam, para curar as insónias dos filhos.
O amor é dado todos os dias, nas quantidades máximas e mínimas. Pode às vezes parecer demais, porque não conseguimos a distância e a austeridade que os livros dizem serem saudáveis.
E crescem, tão inocentes, que fazem inveja aos anjos, contando tudo o que se passa à volta, chorando e rindo muito, porque são meninos só, mais nada.
Têm grandes olhos que nos vêem em todos os gestos e nos pressentem as dores e a aflição, que farejam como felinos.
Ficam contentes só porque chegamos a casa e sair é uma festa, mesmo que seja só à loja da esquina, porque o mundo é todo ali.
Desconhecem a malícia e a maldade e se mentem é só por pensar que nos fazem felizes a dizer o que nós gostávamos de ouvir.
É nesta parte que crescem mais. Quando os olhamos, vemos-lhes as mãos de criança, roliças e doces, crescerem na ponta de uns braços que parecem navegar por cima das cabeças. É então que passam eles a abraçar-nos e a levantar-nos do chão, para mostrar como são fortes e heróis.
São as suas mãos que agora seguram as nossas. Seria já ridículo passeá-los de mão dada, como dantes.
Mesmo assim, sonhamos que lhes protegemos (ainda) os passos. E habituamo-nos a esperar. Que voltem, que voltem sempre. Do mar, da montanha, do outro lado do mundo, da aventura que não os deixa dormir de ansiedade sonhada. Temos medo por eles, temos medo que vão e sonhamos que não voltam, que ninguém os traz até nós.
E assim crescemos, a habituar-nos à distância que dói no coração das mães, mas que faz os filhos mais fortes e audazes. Por isso amamos e odiamos as viagens que nos condenam às esperas, mas deixamo-los ir, e dizemos-lhes que vão, que nós guardamos tudo o que lhes pertence até voltarem: o quarto, o cão e o cheiro do mar.
Às vezes afastam-se demais, e a espera é mais difícil. Ficamos então a girar pela casa, a limpar o quarto e a olhar as fotografias, como se pudessem falar.
Mas um dia voltam, a mergulhar nos sonhos e na realidade, que é um modo de dizer, na esperança de seguir em frente e serem felizes. Para sempre.
É então que as mães dormem a sono solto, o sono adiado de muitos anos.
Parabéns com beijos, cheios, como sempre foram.
Mãe
2 comentários:
Pois...como te entendo!
Quando aqueles dedos fininhos nos agarraram, pela primeira vez, a nossa mão, não sei dizer-te como o fazem, mas sei que nós é que ficamos, para sempre, presos a eles!
Neste momento, até estou no quarto e no computer dele ...e já saiu há 2 anos, só que não acredito. Está a 300 e tal km, é perto, é longíssimo. Não está mas anda à minha volta, com ar grave, sempre com pressa de qualquer coisa.Olho para o corredor porque vai dizer "o que é o jantar, mamãe?" Guardei a "gatinha" agora velhota e todos os livros, todos os papeis, todas as sebentas da Fac., as cartinhas das primeiras meninas, mil e uma placas e fios electrónicos,as T-shits antigas nas gavetas, o resto do 1º perfume que compramos os dois, há mais de 15 anos !
E ao ler isto, deu-me aqui um nó, não resisti a desabafar que tenho saudades, do passado e do futuro.
E também ficou o hábito da "luz de presença" no corredor. Obrigada por me ter dado este espaço. Fico mais aliviada por sentir que não sou assim tão mãe-tola!
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