terça-feira, maio 23, 2006

Luis Brito Pedroso: choro a tua partida como um continente /que chora o soltar de uma porção de terra




Amancio Prada canta Adios Rios, adios fontes, de Rosalia de Castro
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dentes de sabre


Pego numa vara e desenho à minha volta
com a dimensão dos meus braços um círculo no solo.
Dentro apenas uma areia escura, muito fina,
um pó perdido e inerte,
que enegrece os meus pés.
Pedras soltas, poucas. Mais nada.
Olho o círculo, trezentos e sessenta graus de país
com o tamanho dos meus braços
e o poema é apenas uma memória.
Adormeço em pé durante meses, fixo nestes ossos.
Cabe alguém nesta ilha?
Choro a tua partida como um continente
que chora o soltar de uma porção de terra,
de uma nascente ilha em direcção ao horizonte,
e espero neste ponto móvel que dês a volta ao mundo.
Deixo cair a túnica, a única coisa que me cobria.
Levanta-se um sopro, uma nuvem sobre quem eu sou,
uma rouquidão crescendo aos poucos na minha voz.
O meu corpo cobre-se de algas.
A meio da noite escura solto um grito,
o sal secou sobre a minha pele, volto a vestir a túnica,
cubro a cabeça com o capuz,
pego na vara e continuo a desenhar coisas estranhas
nesta areia até o sol nascer


Luis Brito Pedroso

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