sábado, abril 22, 2006

Requiem por um rei sem reino


http://pimba-club.deviantart.com/

Leio, releio os exegetas.
Quanto mais leio, descreio. Insisto?
Deve ser um mal do século
- se não for um mal de vista.

Affonso Romano de Santana, Que País é este?


A flor(a) do "Faroeste da rede"

Fiquei a saber pelo artigo do Pacheco Pereira que as caixas de comentários estão cheias de arruaceiros com fins ignóbeis, capazes de matar a mãe para aparecer no blogue. Conheço e frequento alguns – poucos – blogues que me interessam porque mostram talento, criatividade e sentido de humor.
Sempre defendi que a verdadeira cultura deve ter a capacidade de passar para as mãos dos outros o saber que o poder conservou como território sagrado, alimentando a ignorância do povo. Só se reina nos reinos da estupidez.

Por isso, por incrível que pareça, é nesta “gentinha” sem qualidades que reside, também, o novo. Para mim, os intriguistas, os bobos da corte, os pimbas, nunca ocuparam muito do meu espaço, pela simples razão de que eu o controlo.

Aqui ficam alguns temas muito interesssantes para investigar, seriamente: o que leva uma criatura como qualquer outra a tornar-se autor de um blogue; que mecanismos, perversos ou não, esconde esta escolha; (mas, e sobretudo) o que ganha com isso, já que ou “donos” dos blogues, os que engordam os sitemeters, são sempre pessoas (de mérito ou não), mediáticas e até famosas em certos “círculos”.

Incomoda que muita gente passe horas diante de um écrã vazio a tentar torná-lo seu?
Todo o artigo de P.P. sobre os blogues remete para um campo semântico que nos leva a pensar que há uma conjura entre os autores de blogues e os seus fequentadores. O blogue em si, como instrumento de comunicação, não merece uma análise digna desse nome: P.P. não ultrapassa a soleira da donzela ofendida na sua virtude, numa acusação contínua e reiterada, que peca por omissão dos aspectos gratificantes dos pequenos círculos de comunicação, da aprendizagem não programada, do estímulo da curiosidade e descoberta da recolha e partilha de informação, do reconhecimento e satisfação narcísica no seu melhor sentido.

Sobretudo os leitores incautos dos “posts” jornalísticos de P.P., que não frequentam os blogues, imaginam um bacanal de gente sem qualidades nem escrúpulos a assaltar as caixas de correio para alcançar a fama.
A realidade que eu conheço anda longe destas fantasias: os blogues têm meia dúzia de fiéis, e dão-se por contentes com comentários dignos desse nome, sem fofocas, insinuações nem maledicências.

Claro que gostam de dar uns palpites sobre os destinos do país que se esbanja entre as vergonhas várias sem que se veja onde pára o bem da nação.
Criticar é um acto saudável, que tem a vantagem de ser gratuito, não ser pecado, não fazer engordar e que, ainda por cima, vem na melhor tradição do escárnio e maldizer na cultura portuguesa.

Escrevam, pois, o que quiserem nas caixas de correio: só lá vai quem quer e só lá fica quem for consentido.
E já agora com uma pontinha de humor. É que a seriedade a mais, dita de olhos baixos que não olham os outros, pode parecer muito bonita mas é muito solitária. Para não dizer sozinha e triste.

Nota importante: eu não tenho um blog famoso, não frequento caixas de correio famosas e não me sento em (famosas?) quadraturas do círculo...

Maria Armandina Maia

4 comentários:

tsiwari disse...

Heheheheee...

;)

Nancy Brown disse...

olá Armandina pois eu concordo inteiramente consigo. tb considero bastante redutor o artigo do JPP e irrita-me bastante o seu sempre duvidoso moralismo. e a impressão de que tenta sempre ser o "pai" tirano da blogosfera.

lector disse...

Apoiada!

Nuno Gouveia disse...

Bravo Armandina, um texto com um grande valor contemporãneo.
pondo a nu o valor da simplicidade,
que por andar esquecida, não significa que acabada.

...mas há um certo encanto nas coisas juntas e desarranjadas, que o veneno da lógica não apanhou ainda.
N.G.