segunda-feira, abril 17, 2006

Paulo Teixeira: o futuro, sangue mais limpo correndo pela carne de quem nasce

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Marlene Dietrich, "Das alte lied"

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Elegia
O futuro não o guardamos em casa, perde-se
disperso entre a meia-noite e a folhagem. Nu,
exposto como uma província além da trincheira
das janelas, fala-nos do ouro puído destes dias,
desse sentido ganho nas coisas que se perdem,
salivando a passagem das horas, sustendo
contra a dor o dreno das nossas vidas.

Lembramos os pequenos oráculos da infância,
os sonhos que são memórias já na sua escura
torre do tombo, ao intimarmos, no seu sossego
povoado, a evasiva alma do passado. Buscamos
no ontem a sua recompensa, sabendo que não
há outro homem para o homem deste lugar,

sangue mais limpo correndo pela carne
de quem nasce, a sua genuína morte pastoral.
Eis chegado o tempo da ceifa, dos presságios
de longe trazidos no rumor das trompas outonais.
As palavras, os trémulos ramos das palavras,
pressentem o espírito da revelação em cada coisa.

Assim choramos a festa última dos instantes,
dias de uma neblina fiel cobrem-nos os passos,
obscurecendo essas mãos que gostariam de subir
ao céu como escadas. Se conhecesse a linguagem
fácil do tributo cantaria a queda adivinhada
a tempo de o poema terminar na forma de uma elegia.


Paulo Teixeira

Elegie

Die Zukunft bewahren wir nicht zu Hause auf, sie geht verloren,
ausgestreut zwischen Mitternacht und Laubwerk. Nackt
ausgestellt wie eine Provinz jenseits der Reihe
der Fenster, erzãhlt sie uns vom abgenutzten Gold dieser Tage,
von diesem in den verlorengehenden Dingen gewonnenen Gefühl,
wenn wir das Vergehen der Zeit einspeicheln und das Abzugsrohr
unserer Leben gegen den Schmerz stemmen.

Wir denken an die kleinen Orakel der Kindheit,
die in ihrem dunklen Archivturm zu Erinnerung
geronnenen Trãume, wenn wir in der bevõlkerten Stille dort
die flüchtende Seele der Vergangenheit herbeizitieren. Wir suchen
im Gestern die Belohnung und wissen doch, daB
der Mensch an diesem Platz kein anderer sein kann,

das reinere Blut strõmt durch das Fleisch dessen,
der geboren wird sein wahrhaft pastoraler Tod.
Da naht die Zeit zur Ernte, Zeit der Vorzeichen,
die im Gemurmel herbstlicher Hornklãnge von weither gebracht werden.
Die Worte, die zitternde Zweige der Worte
ahnen bereits den Geist der Offenbarung in jedem Ding.

So beweinen wir das letzte Fest der Augenblicke,
treue Nebeltage bedecken unsere Schritte
und verdunkeln diese Hãnde, die treppengleich
zum Himmel streben. Wãre mir die leichte Sprache
des Opfers vertraut, besãnge ich den erahnten Untergang,
daB das Gedicht in Form einer Elegie endete.

Paulo Teixeira
Tradução: Niki Graça



1 comentário:

maria joão martins disse...

Este blog está cada melhor! Parabéns à menina!