A Mentira é a recriação de uma Verdade. O mentidor cria ou recria. Ou recreia. A fronteira entre estas duas palavras é ténue e delicada. Mas as fronteiras entre as palavras são todas ténues e delicadas. Entre a recriação e o recreio assenta todo o jogo. O que não quer dizer que o jogo resulta sempre. Resulte seja o que for ou do que for. A Ambiguidade é a Arte do Suspenso. Tudo o que está suspenso suspende ou equilibra. Ou instabiliza. Mas tudo é instável ou está suspenso. Pelo menos ainda. Ainda é uma questão de tempo. Tudo depende da noção de tempo ou duração ou extensão. A aceleração do tempo pode traduzir-se pela imobilidade pois que a imobilidade pode traduzir-se por um máximo de aceleração ou um mínimo de extensão: aceleração tão grande que já não se veja o movimento ou o espaço ou a duração. Tudo está sempre a destruir tudo. Ou qualquer coisa. Ou alguém. Mas estamos sempre a destruir tudo ou qualquer coisa. Ou alguém. Os construtores demolem. No lugar onde estava o sopro, pormos pedras ou palavras: sinónimo de construção. Ou destruição. Ou acção.
Ana Hatherly, O Mestre
http://www.mulheres-ps20.ipp.pt/Ana_Hatherly.htm
http://www.lumiarte.com/luardeoutono/anahatherly.html
http://www.revista.agulha.nom.br/ag35hatherly.htm
http://www.triplov.com/alquimias/hatherly.htm
1 comentário:
Um texto surpreendente, porque com as palavras posso eu bem, mas já com uma mulher que assim escreve sobre elas, isso é por demais surprendente!
obrigado Armandina.
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