Num dia em novembro damos pela sua presença que tínhamos como certa no tempo em que decoravam os cenários familiares. Achávamos que eram eternos e os sentimentos eram às vezes escassos. Uma pouquidão crescia, muitas vezes, como se receássemos mostrar-nos, na nossa fraqueza. Um dia, deixámos de os ver à nossa volta, e estranhamos, até às lágrimas. Mas, um dia de novembro, iremos sentir-nos pequenos diante dos que saem regularmente de suas casas e, seja ou não novembro, vão pôr-lhe flores frescas e conversar com eles. Como se fizesse parte das suas vidas.
Eu só os lembro, tímida demais com esses outros gestos e fico-me pelo ranger do silêncio que se fez à sua volta, a ler e reler o que os outros disseram, ciente como nunca da minha infinita fragilidade.
Em Novembro inicia-se o retorno
dos mortos mais longínquos. Dos que se iam
esquecendo do seu corpo,
ao mesmo tempo que ver-nos se lhes ria.
Somente estavam longe porque os olhos
com que os amáramos tinham
o volume perdido do seu morno
amor; ou da alegria
com que crescendo fôramos no outono
da sua ausência sapientíssima.
De resto, andavam próximos. Os olmos
quase que só escondiam
andarmos a acordar aos poucos
à vigília.
Mas, em Novembro, os corpos,
com toda a sua transparência, vinham
abrir o lugar; lustrar os copos
que o Natal da mesa alargaria
em paisagens atónitas, que todos
andaríamos vendo. E que nos viam
andar por elas dentro. E pelo próximo
retorno que em Novembro se inicia.
Fernando Echevarría, Sobre os mortos
Eu só os lembro, tímida demais com esses outros gestos e fico-me pelo ranger do silêncio que se fez à sua volta, a ler e reler o que os outros disseram, ciente como nunca da minha infinita fragilidade.
Em Novembro inicia-se o retorno
dos mortos mais longínquos. Dos que se iam
esquecendo do seu corpo,
ao mesmo tempo que ver-nos se lhes ria.
Somente estavam longe porque os olhos
com que os amáramos tinham
o volume perdido do seu morno
amor; ou da alegria
com que crescendo fôramos no outono
da sua ausência sapientíssima.
De resto, andavam próximos. Os olmos
quase que só escondiam
andarmos a acordar aos poucos
à vigília.
Mas, em Novembro, os corpos,
com toda a sua transparência, vinham
abrir o lugar; lustrar os copos
que o Natal da mesa alargaria
em paisagens atónitas, que todos
andaríamos vendo. E que nos viam
andar por elas dentro. E pelo próximo
retorno que em Novembro se inicia.
Fernando Echevarría, Sobre os mortos
4 comentários:
Esta proximidade com os mortos, esta forma de culto muito do Norte Ibérico, está maravilhosamente retratada nas imgens iniciais do último Almodóvar (Volver).
E, baralhando-nos as memórias afectivas, fazem-nos tanta falta...
Também fico...empurram-me mas fico. Dizendo frases de avó, fazendo gestos do passado que são as flores que lembro dela. Amigos idos, nunca da minha memória e meu coração. Mas sim, silêncio se faz à volta, conveniente. Bjinho a ti
Deixo um abraço e saio silenciosa...
e esta? para descobrir o teu blog foi preciso ir ao google procurar pelo meu próprio nome .... luís brito pedroso... muito contente por teres gostado daquele poema... vai-me visitando sempre
http://lup51.blog.simplesnet.pt
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