sexta-feira, julho 14, 2006

alexandre, o grande o'neill português





O Tempo sujo

Há dias que eu odeio
Como insultos a que não posso responder
Sem o perigo duma cruel intimidade
Com a mão que lança o pus
Que trabalha ao serviço da infecção

São dias que nunca deviam ter saído
Do mau tempo fixo
Que nos desafia da parede
Dias que nos insultam que nos lançam
As pedras do medo os vidros da mentira
As pequenas moedas da humilhação

Dias ou janelas sobre o charco
Que se espelha no céu
Dias do dia-a-dia
Comboios que trazem o sono a resmungar para o trabalho
O sono centenário

Mal vestido mal alimentado
Para o trabalho
A martelada na cabeça
A pequena morte maliciosa
Que na espiral das sirenes
Se esconde e assobia

Dias que passei no esgoto dos sonhos
Onde o sórdido dá as mãos ao sublime
Onde vi o necessário onde aprendi
Que só entre os homens e por eles
Vale a pena sonhar.

Alexandre O'Neill, No Reino da Dinamarca, 1958.

2 comentários:

armandina maia disse...

em nome do O'neill, obrigada pela rigorosa ajectivação. Tê-lo-ei em boa conta. às vezes somos tão banais, a tentar acompanhar os adjectivos..
armandina

bettips disse...

Onde está? Os seus poemas escolhidos e que tão bem me sabem?
Que esteja bem ...