José Manuel Rodrigues, Água de Prata, 2001
Vejo-te sempre desse lado da ponte e eu aqui, na outra ponta, a acenar-te antes de a atravessar até ti. Caminho com passo seguro porque sei que me vês, e quero que me vejas assim, firme e invencível, a caminhar até ti.
Peço-te que não dês um passo sequer, que não abrevies esta demora que é só nossa. Chegarei antes que seja tarde demais. Só nos sonhos é nos perdíamos um ao outro.
Aqui, no extremo da ponta, exerço-me no extremo de mim, da angústia que mascaro, sorrindo para ti. Olho-te como uma actriz no écran, e percebo aquilo que os outros vêem em mim, uma fonte infindável de vida. Aqui, a poucos passos de ti, com o abismo por baixo dos nossos pés, tremo de pavor como uma qualquer pequena mulher sem particular educação no mascarar dos sentimentos.
Tremo assim, mas nada disto tu vês. Não quero que vejas. Quero que me sintas exacta, como uma linha recta que desce no horizonte à hora certa.
Maria Armandina Maia, Outubro 2005
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