
A paisagem dissolvia-se num imenso abate de árvores. A terra queimada, terra batida agora, quase aliviava os corações dos que tinham hesitado em deixá-las, as terras, as casas, os animais, tudo o que antes, ainda há pouco, fora a sua morada. Às vezes desde o berço. Às vezes era aquele, só, o mar, a terra e o ar que tinham por mundo.
Custava ver soltar-se aquele fio que os prendia à vida, desatar-se, sem um nó sequer de resguardo. De repente, tudo se perde e se espalha, solto, avulso: E eles a lutar pela vida, como animais de sobrevivência que são, afinal.
Noutras paragens, gente quase nómada, tão diferente e tão igual, pede refúgio, aos milhares, a abandonar casas também queimadas por guerras de senhores que, às vezes, nem sabem bem o que lá foram fazer, perdidos em agendas de escala internacional, entre um e outro vôo.
A contrastar com as formalidades “da ajuda”, sente-se a frieza dos homens que desenham discursos sobre a dança de morte das pessoas, e até dão acenos de salão de baile, com direito a improviso de piano, enquanto se preparam para os apertos de mão em que se derretem as possibilidades de travar seja que batalha for.
Onde estarão, agora, os animais feridos, perdidos, os cães de guarda que dormiam a sono solto à porta das moradas dos donos?
Quando cairão de vez os cavalos queimados, a vaguear sobre o chão de fogo, de olhos mortos e cegos, que se atravessavam à frente da câmara do repórter, a arder de dor, de cegueira e de perda?
Ainda altos e esguios, ainda superiores no seu modo brando de mover a cabeça devagar, como esperassem a mão amiga do dono, a sussurrar-lhes palavras de conforto e amparo. Ainda o palpitar de um coração agora em chamas, mas já árvores abatidas, como tudo em volta, sem vida, sem norte, sem morte sequer?
Custava ver soltar-se aquele fio que os prendia à vida, desatar-se, sem um nó sequer de resguardo. De repente, tudo se perde e se espalha, solto, avulso: E eles a lutar pela vida, como animais de sobrevivência que são, afinal.
Noutras paragens, gente quase nómada, tão diferente e tão igual, pede refúgio, aos milhares, a abandonar casas também queimadas por guerras de senhores que, às vezes, nem sabem bem o que lá foram fazer, perdidos em agendas de escala internacional, entre um e outro vôo.
A contrastar com as formalidades “da ajuda”, sente-se a frieza dos homens que desenham discursos sobre a dança de morte das pessoas, e até dão acenos de salão de baile, com direito a improviso de piano, enquanto se preparam para os apertos de mão em que se derretem as possibilidades de travar seja que batalha for.
Onde estarão, agora, os animais feridos, perdidos, os cães de guarda que dormiam a sono solto à porta das moradas dos donos?
Quando cairão de vez os cavalos queimados, a vaguear sobre o chão de fogo, de olhos mortos e cegos, que se atravessavam à frente da câmara do repórter, a arder de dor, de cegueira e de perda?
Ainda altos e esguios, ainda superiores no seu modo brando de mover a cabeça devagar, como esperassem a mão amiga do dono, a sussurrar-lhes palavras de conforto e amparo. Ainda o palpitar de um coração agora em chamas, mas já árvores abatidas, como tudo em volta, sem vida, sem norte, sem morte sequer?
Armandina Maia, Moledo/Cerveira, Agosto de 2006.